A Polícia Civil de Pernambuco deflagrou a Operação Pacto Amis, que resultou no afastamento temporário, por 30 dias, do prefeito de Pesqueira, Marcos Luidson de Araújo (Republicanos), conhecido como Cacique Marquinhos. A ação é fruto de uma investigação que apura um esquema de corrupção envolvendo agentes públicos, empresários e políticos do município.
A operação foi conduzida pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Draco), por meio da Terceira Delegacia de Combate à Corrupção, sediada em Caruaru. De acordo com a Polícia, o grupo teria fraudado ao menos 15 processos licitatórios, causando um prejuízo estimado de R$ 15 milhões aos cofres públicos.
Da eleição à fraude: o caminho do poder
As investigações começaram em 2022, a partir de um inquérito sobre tráfico de drogas que revelou conexões entre criminosos e a administração pública de Pesqueira. Além disso, um dos vereadores investigados por envolvimento com o tráfico integrava o núcleo político do esquema de corrupção, o que motivou a abertura de uma nova linha investigativa.
O foco principal recai sobre o atual prefeito, que em 2020 foi eleito, mas considerado inelegível pela Justiça Eleitoral. Na época, ele assumiu o cargo de secretário municipal, onde, segundo a Polícia, exerceu influência direta sobre as decisões da gestão. Em 2024, foi novamente eleito e já exercia o cargo de chefe do Executivo no momento do afastamento.
Licitações direcionadas e rede de favorecimento
A investigação aponta que empresários locais financiaram a campanha de Cacique Marquinhos em 2020 e, em contrapartida, passaram a ser favorecidos em licitações públicas. Os contratos fraudulentos abrangeram principalmente obras de infraestrutura, como pavimentação de vias, construção de prédios públicos e locação de veículos. Havia também contratos com empresas de dedetização e consultoria técnica.
“Não se tratava de um caso isolado, mas de um modelo de corrupção sistêmica e bem estruturada, com divisão clara de funções entre os setores público e privado”, afirmou o delegado Jeová Miguel, responsável pela investigação.
Mandados e apreensões
A operação cumpriu 15 mandados de busca e apreensão domiciliar, um mandado de prisão preventiva e uma série de medidas cautelares, incluindo o afastamento de agentes públicos, a proibição de contratação com o poder público e o bloqueio de bens.
A Justiça determinou o bloqueio de R$ 15,7 milhões em contas bancárias, além da indisponibilidade de veículos e imóveis dos investigados. Quatro armas de fogo também foram recolhidas durante a ação.
Organização criminosa no poder
A Polícia acredita que a organização criminosa era liderada por Cacique Marquinhos e contava com a participação de dois vereadores, conhecidos como Silvio Chucuru e Pastinha, além de servidores estratégicos lotados em comissões de licitação e fiscalização de obras. Técnicos da prefeitura emitiam pareceres favoráveis a pagamentos, mesmo quando as obras não atendiam aos critérios de qualidade ou sequer estavam concluídas.
“Apesar de não estar formalmente no cargo de prefeito durante o período investigado, ele comandava de fato a administração”, afirmou o delegado.
Próximos passos
O inquérito segue em andamento, agora com a análise do material apreendido, incluindo celulares, computadores e documentos. Os investigados responderão pelos crimes de fraude em licitação, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
As Fotos são de: Júlio Gomes
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