A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), conseguiu sanar algumas das dúvidas em relação à sua capacidade de articulação política nestas eleições. Após quase dois anos na gestão estadual, a tucana chegou ao pleito municipal de 2024 com participação intensa nas campanhas de aliados e o resultado não decepcionou: com Lyra, o PSDB se consolidou como o partido com o maior número de prefeituras no estado, saindo de cinco para 32 gestões.
Esse salto, porém, em muito se deve ao fato da madrinha política possuir, atualmente, a estrutura do governo à disposição dos postulantes. É o que explica a doutora e cientista política Priscila Lapa, entrevistada pelo LeiaJá para repercutir o peso do segundo turno na dicotomia PSB x PSDB.
“Havia uma ideia de que, como ela não pontuava muito bem na série histórica, poderia não emprestar popularidade e não ser a madrinha ideal, mas isso foi superado”, diz a cientista. “Porém, eu destacaria também a importância do voto de estrutura. Quando a governadora vai para um reduto eleitoral e faz um gesto de apoio a determinado candidato, ela leva a estrutura do governo com ela. Leva secretários, a possibilidade de nomeações, investimentos, obras”, contra-argumenta, destacando que o voto de estrutura é “determinante” para o desempenho do partido.
O protagonismo do PSDB foi, inclusive, uma promessa de Lyra durante a pré-campanha de Daniel Coelho (Cidadania) a prefeito do Recife. No primeiro turno, chegou a haver empate entre os partidos adversários. Porém, com a vitória de Ramos em Paulista, no segundo turno desse domingo (27), o PSDB disparou como o grande vencedor da disputa.
João Campos vs. Raquel Lyra
Por outro lado, os tucanos também lidam com uma rápida recuperação do PSB em Pernambuco. A derrota estadual em 2022 não foi suficiente para abrir distância entre os dois partidos. Mesmo sem estar à frente do estado, os socialistas emplacaram 31 prefeituras no pleito recente.
Com a reeleição no Recife, maior colégio eleitoral do estado, o prefeito João Campos (PSB) se consolidou como a maior liderança de esquerda na região Nordeste. Assim, a derrota de Daniel Coelho nas urnas do Recife foi rapidamente associada ao capital político de Raquel Lyra numa eventual disputa contra Campos, que é cotado para o governo em 2026.
No entanto, Priscila Lapa explica como as eleições deste ano se saíram equilibradas para esses dois cabos eleitorais. “Habilidade política, capacidade de liderar um grupo político e fazer negociações, os dois têm. O que acho que vai desequilibrar mais esta disputa é o cenário nacional de 2026. A gente precisa olhar como os partidos se organizarão, e aí, sim, entender como a conjuntura nacional interfere na correlação de forças no âmbito estadual”, explica a especialista.
“Sem dúvidas, os dois estão numa situação de acirramento, que não é confortável, mas ambos em condições de liderarem projetos políticos igualmente exitosos”, acrescentou.
Perfis diferentes
A cientista política destaca, ainda, que a diferença entre os perfis de governabilidade de Raquel e João têm refletido na comunicação com o eleitorado. Enquanto João Campos, que é o prefeito mais jovem da história do Recife, consegue passar maior “jovialidade” ao se comunicar, Raquel Lyra, que também é uma governadora jovem, pode ser lida de forma mais rígida.
“Apesar de as pessoas falarem muito do jeito mais ‘duro’ de Raquel, principalmente quando comparada com ele, os dois têm muita capacidade de articulação política”, comenta. No entanto, João não é apenas um político com alta popularidade, “ele parece ter entendido o jogo político 4.0, da era digital, da era de se comunicar, no formato de montar secretariado, no ritmo de entregas. É um conjunto de fatores”, acrescenta Lapa.
Nova esquerda
O perfil mais leve e com uma nova postura midiática está por trás, ainda, da renovação do PSB com a saída do governo. Segundo Lapa, a expectativa era de que os socialistas tivessem um baixo desempenho após a quebra da hegemonia da legenda.
“O PSB pode não ter sido numericamente superior ao partido da governadora, mas está muito longe de ser um partido pouco competitivo. Pelo contrário, foi um partido que reafirmou sua capacidade menos de dois anos depois de ser derrotado expressivamente no governo estadual. Isso não é à toa e nem uma coincidência histórica, é uma construção política que tem como líder o prefeito do Recife, João Campos”, avalia.
Ao concluir a avaliação, Priscila Lapa fala em uma “nova esquerda” a partir de Campos: “A imensa popularidade dele e a construção de uma liderança que vai além dos limites da cidade do Recife, foi, sim, importante para mostrar que o PSB passou por um processo de reconstrução pela via de um político que se mostra antenado com os novos tempos e demandas do eleitor, com o novo formato de comunicação política. Todos são ingredientes que o projetam, sim, como uma liderança de uma nova esquerda”.
A Foto é de: Reprodução
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