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domingo, 26 de agosto de 2012

"PAI, MÃE E FILHOS" JÁ NÃO REINA MAIS NOS LARES

A família brasileira se multiplicou. O modelo de casal com filhos deixou de ser dominante no Brasil. Pela primeira vez, o censo demográfico captou essa virada, mostrando que os outros tipos de arranjos familiares estão em 50,1% dos lares. Hoje, os casais sem filhos, as pessoas morando sozinhas, três gerações sob o mesmo teto, casais gays, mães sozinhas com filhos, pais sozinhos com filhos, amigos morando juntos, netos com avós, irmãos e irmãs, famílias “mosaico” (a do “meu, seu e nossos filhos”) ganharam a maioria.

O último censo, de 2010, listou 19 laços de parentesco para dar conta das mudanças, contra 11 em 2000. Os novos lares somam 28,647 milhões, 28.737 a mais que a formação clássica. Essa virada vem principalmente com a queda na taxa de fecundidade. Em 1940, a mulher tinha em média seis filhos, hoje tem menos de dois, fazendo a população crescer mais devagar e ficar mais velha. Ao optar por uma família menor, a mulher entrou forte no mercado de trabalho: em 1969, elas eram 27,3% da força de trabalho, em 2009, 43,6%.

A renda feminina trouxe a segurança para a mulher seguir seu caminho sem marido e os costumes chegaram à legislação, como a nova lei do divórcio, que dispensa a mediação do juiz. E, lembra o sociólogo Marcelo Medeiros, da UnB, o trabalho feminino distribuiu melhor a renda. “Menos filhos e mais renda ajudaram a reduzir a desigualdade.”

Viver pelo mundo é mais barato

Os casais sem filhos crescem e já chegam a dois milhões. São os dinks, sigla em inglês para “Dupla renda, nenhum filho”. Vinicius Teles e Patrícia Figueira são exemplo. Eles só têm endereços temporários pelo mundo ou os contatos eletrônicos. No Facebook, não poderia ser mais apropriado: Casal Partiu. Embora tenham se conhecido em Niterói, no Rio de Janeiro, eles agora não têm casa: passam quatro meses no Brasil e, no resto do ano, vivem em países como Líbano, Japão, Argentina, Grécia, Índia ou Nova Zelândia.

Juntos há dez anos, sempre tiveram uma certeza: não teriam filhos. A decisão de viver pelo mundo foi tomada com a evolução da carreira de ambos: ele trabalha remotamente na criação de softwares e ela é fotógrafa de casamentos. “Não somos milionários. Viver viajando pelo mundo, mesmo na Europa, é mais barato que ter casa no Rio”, afirma Vinícius. “Nossas famílias cobravam os filhos, hoje entendem, isso é mais comum”, diz Patricia.

“Antes, a realização era casar e ter filhos. Hoje os dinks são quatro milhões de pessoas, de renda alta, moram em apartamento e grandes metrópoles”, diz José Eustáquio Diniz, professor da Escola Nacional de Estatística, do IBGE.

Os desafios para o IBGE permanecem. O instituto ainda não mede casados em casas separadas e filhos que têm duas casas. Ana Saboia, coordenadora de Indicadores Sociais, estuda como outros países tratam essas novíssimas famílias.

Mães e pais que valem por dois

São 10,197 milhões famílias em que só há mãe ou pai. Uma delas é a de Jorge Ricardo, Pedro Ricardo e Brenno. Essa família tem poucos similares no Brasil, mas isso vem mudando. Formada por um pai sozinho e dois filhos ainda por terminar de criar, é encontrável em apenas 2,3% dos lares. Jorge Ricardo Gonçalves, professor de Sociologia da UFRJ, cria os filhos sozinho há seis anos. Pedro tinha na época 6 anos e Breno, 1. A mãe, que vive em Teresópolis, visita os filhos, mas a distância torna mais difícil o convívio.

“Quando nos separamos, eu já cuidava mais das crianças mesmo. Tinha mais condições financeiras e eles ficaram comigo. O melhor disso tudo? É ser a principal pessoa da vida deles. E ter o papel da mãe, o centro”, diz o pai, que tem outros dois filhos do primeiro casamento: Lara, 20 anos, e Lúcio, de 21, que vivem com a mãe.

Algumas coisas se repetem seja qual for o modelo de família. Os momentos que antecedem o horário escolar são os mais corridos. Mochila, banho, almoço, hora da van. Lá não é diferente. Jorge fala que procura estar presente nas refeições. Alguns projetos ficaram pelo caminho com essa escolha. O fim do doutorado e as viagens para congressos e palestras. Agora o estudo maior é com Pedro Ricardo, no sétimo ano.

Pedro é enteado de Jorge. Ele assumiu a paternidade do menino quando ele estava com um ano. “Algumas vezes, ele falava: ‘você não é meu pai’. Eu respondia que ele é exclusivo. Foi o único escolhido. Estou por que amo”, lembra Jorge.

Preconceito ainda existe

Enquanto as famílias de pais sozinhos são poucas, as de mães sozinhas correspondem a 15,5% dos lares. O crescimento dos divórcios (a proporção de pessoas separadas passou de 1,7% em 2000 para 3,1% em 2010) e a independência feminina justificam isso.

“A mulher assumiu o controle de seu destino. Controle da sexualidade e da maternidade, com a reprodução assistida”, afirma Ana Amélia Camarano, demógrafa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A vida de Ana Paula Monteiro mudou completamente há um ano, quando Bárbara entrou em sua vida. A advogada de 43 anos, moradora de Paracambi e mãe solteira, não consegue disfarçar a emoção quando fala da chegada de sua filha adotiva:

“Sua vida vira de cabeça para baixo, os gastos crescem, tive até que mudar de um apartamento para uma casa. Mas posso falar com certeza: nunca fui tão feliz na minha vida. Sempre imaginei que ser mãe seria muito bom, mas minhas expectativas foram superadas.

Ana Paula sempre sonhou em ser mãe, mas seu namorado, que é pai em um relacionamento anterior, não queria mais filhos. Ela, então, partiu para sua luta solitária, que avançou apesar das dificuldades no caminho. Hoje ela sente que realmente tem uma família, e seu namorado, a quem Bárbara chama de tio, mora em outra casa. Ela ainda enfrenta preconceito como mãe solteira adotiva. “Encontrei grupos de adoção que me ajudaram, são pessoas que compartilham experiências valiosas.”

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